domingo, 29 de maio de 2011

Inês Pedrosa

"O muro desmoronou-se, Berlim já não se alimenta de mentiras... No entanto, os anjos continuam a deambular pelas ruas da cidade, atraídos pelos fragmentos de solidão que transformam as pessoas em muros."




"O desejo é atraído pelo muro e pelas mentiras, alimenta-se deles sem querer, porque o desejo não sabe senão desejar. Esbarra num muro, olha para o infinito do céu e transforma a rigidez do cimento numa montanha rochosa a escalar. Da areia das palavras faz ouro puro, escaldante – o desejo não aceita a erosão e o frio do mundo."


"Não há desejos intransitivos – mas há desejos equivocados, perdidos, extraviados, desejos que nos atravessam sem nos tocarem."


"Enquanto o meu marido me batia, pedia em silêncio ao meu pai que descesse do céu para nos salvar. Mas as regras do jogo de Deus são outras, matemáticas e claras, como dizia o meu pai: temos apenas a liberdade das nossas escolhas, os anjos observam, anotam os pontos que as pequenas peças cá em baixo vão somando, suspirarão talvez diante da absoluta previsibilidade da violência, do infinito tédio da violência, e é tudo."




"Seria possível viver sem clandestinidade?"



"A paz é para os mortos. E nem todos, parece-me."


"Quando muita gente acredita em alguma coisa, essa coisa passa a existir."


"O riso é mais contagioso do que a dor."


"Por agora, danço entre os arranha-céus até que eles se diluam, danço como se tu pudesses renascer da água dos meus olhos, inundada de luz."


"A paixão da paciência sempre se sabe rir das paixões maiores."


"Há no bem uma força contínua, uma música inesquecível que permanece para lá da fúria ruidosa do mal."


"Os mortos tornam-se secretos para apaziguar a alma dos vivos."


"O erro é a melhor definição da humanidade."


"O futebol é um altar alternado de desgraças e milagres, o campo da injustiça democrática, do poder arbitrário, da sorte inesperada."


"A mesma dor nunca é a mesma."


"Um anjo não chora, mas nem por isso é menos triste."




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